sexta-feira, 14 de agosto de 2009

SOCIEDADE DE CASTAS NO BRASIL #1: O "POVÃO"


O brasileiro pertencente à casta conhecida vulgarmente como "povão" é aquele que se orgulha do Brasil do jeito que ele é. Vê a classe média como "playboys", que são seus grandes inimigos. Afinal, trata-se dos filhos dos patrões (ou os próprios) que no dia-a-dia tanto o oprimem, e a seus amigos de laje. Ah, se ele soubesse que eu fico direto em lajes, tomando um "gelo" e jogando buraco...

"Sou brasileiro e não desisto nunca!", "Sou maloqueiro e sofredor", "Faveeeeeeeela, orgulho e lazer, nós somos... faveeeela!", "É som de negro, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado"...

Há uma mensagem torpe imperando no entretenimento brasileiro dos anos 2000. Trata-se do "orgulho de ser pobre". A maioria pobre deve ser convencida que "tá tirando onda". A favela não é feia, nem suja ou fedida. A favela é style! A favela (ou gueto) é a marca do Brasil, e seu povo "sofrido" e "batalhador" tem que fazer de tudo pra manter sua cultura linda. Axé, samba e funk; sexo com menores, tráfico e armas; leis paralelas, incitação à violência gratuita e ao furto de energia elétrica e água encanada; individualismo extremo contrastando com a falta de privacidade e autonomia. Enfim, viva essa contribuição maravilhosa do Brasil à antropologia mundial, que é a favela!

Ou seja: querem convencer o pobre que é bom ser pobre, e que ele não deve correr atrás pra, com trabalho e instrução, melhorar a sua vida e a da comunidade ao seu redor. Querem manter a maioria como ela sempre foi: preguiçosa e ignorante. É um estratagema sórdido (e porque não dizer, manjado) da elite brasileira, com medo de perder o poder que sempre teve na tomada de decisões da nossa pátria. Disseram-me uma vez: "há os que trabalham, há os que têm empregos e há os que ganham dinheiro". A maioria deve trabalhar, apenas. Sem pensar. Tal qual Carlitos em "Tempos Modernos".

O "povão", como bom "patriota", adere a essa tese afirmada nas telenovelas e nos telejornais. Respeita a opinião de Galvão Bueno, William Bonner e outros crápulas. Defende com unhas e dentes a bitolação nacional, porque é brasileiro e deve honrar a cultura brasileira. No fundo, sem que perceba, defende esse engodo tão somente porque lhe é simpático.

Enquanto isso, existe uma minoria dentro das favelas, que, sabe Deus o porquê, não engole essa lorota. Juntamente ao segmento da classe-média que não é "aplayboyzada", inicia-se - graças à invenção máxima da comunicação humana, a Internet - uma retórica bastante antipática aos ouvidos do "povão". É antipática por ser, digamos, contundente. Agressiva, na verdade. Ela cobra do "povão" uma atitude cidadã mais ativa.

Cobrança injusta, de fato. Como o "povão" vai atuar se nem sabe onde mora o erro? Como o "povão" pode exercer cidadania se não lhe é ensinado os princípios básicos de conduta? Óbvio, esclarecer-lhes seria o caminho. Mas desafiar a gigante máquina midiática é ainda, apesar dos esforços, uma ousadia grande demais.

Essa minoria esclarecida vê os problemas brasileiros como eles REALMENTE são. É claro que estes se aborrecem com o establishment da alienação coletiva, e por isso brigam muito, mas da forma errada. Batem boca, vociferam, reclamam, contestam, criticam. Sempre com acidez, sarcasmo e ironia. Jamais contra o "povão", mas contra aquilo que REALMENTE oprime o "povão": sua própria ignorância.

Mas, ignorante, o "povão" não alcança aonde se quer chegar. Com isso, se ofendem, dizendo-se perseguidos e massacrados por preconceitos que jamais houveram. É isso que os magnatas da informação subliminarmente fazem: jogam os incultos contra os esclarecidos, para que aqueles tomem as dores que não são deles, e defendam o mesmo sistema que os enclausuram... Coitados!!! Porque, em verdade, nós queríamos um Brasil verdadeiramente democrático, com fluxo de informações sadias e construtivas, com debates austeros, e não a falácia rasa e mesquinha de que "ser pobre é melhor que ser rico".

Nós queríamos ver as crianças da favela brincando em playgrounds algum dia, e não serem obrigadas a morar mal, com indignidade. Mais: queríamos que todas as crianças brasileiras tivessem iguais condições pra acessar a todo o tipo de informação, e não apenas algumas informações selecionadas pela elite. Queríamos ainda que elas fossem estimuladas a estudar, a criar, a produzir, a pensarem por si mesmas, e não apenas servindo como papagaios-de-pirata do pensamento dominante, boicotando a si mesmas sem saberem.

Nesse Brasil imaginário, as crianças poderiam fazer suas próprias escolhas. Teriam o direito de escolher na tevê se querem ver desenho japonês, americano, francês ou nacional; se querem acompanhar futebol japonês, americano, francês ou nacional; e que fossem ao colégio pra aprender sobre a cultura e a história japonesas, americanas, francesas e nacionais.

Não mais veriam como inimigos aqueles que fazem escolhas diferentes das suas. Teriam a dignidade de poder escolher o que comer, o que vestir, onde morar e com o que se divertir. Sem qualquer limitação financeira que lhes obrigue a serem "favelados" ou "playboys". Com o direito de escolha sobre o que se quer ser, contanto que cumpram seus deveres para com o bem comum.

Nós sabemos que hoje isso não é possível devido à ganância das mesmas pessoas que segregam os brasileiros em "pobres" e "ricos". Então vai um apelo ao "povão". Ao invés de defender somente os pobres, pensem mais em defender todos os brasileiros. Ou melhor, pensem mais em defender a Humanidade. Não se apeguem às mediocridades que a tevê lhes vende, amigos...

Um comentário:

Sylvia Araujo disse...

Bingo!

Pena que eles não vão ler, porque talvez nem saibam...